Grandes homens que ajudam a fazer grandes campeões
Rusticidade misturada com emoção. Suor misturador com lágrimas – muitas vezes de felicidade. Esse é o dia-a-dia dos trabalhadores que estão nos bastidores da maior feira de gado Nelore do mundo, são os profissionais conhecidos como tratadores e apresentadores.
A rotina começa bem cedo, muitas vezes, por volta das 4 da manhã estes profissionais já estão de pé. A primeira coisa que fazem é tirar as sobras do “trato” (mistura de alimentos volumosos com concentrados proteicos e minerais) dos cochos e abastecê-los novamente, além de disponibilizar água fresca para os animais. Na sequência vem o banho dos animais, que depois de secos, voltam para os pavilhões para se alimentarem. Mesmo já vindo para a exposição devidamente preparado, se o animal for entrar em pista para ser julgado, estes profissionais dão os retoques finais na chamada “toalete” dos animais – aparam pelos, lixa os chifres, aparam os cascos, entre outros detalhes, para que o animal esteja sempre bem apresentado aos olhos dos jurados.
Em geral, a rotina da troca ou adição de “trato” no cocho é feita de 3 em 3 horas. A retirada dos dejetos e a substituição da palha utilizada como cama dos animais é constante. “Considerando um animal de 800 kg, consumindo uma dieta de alta performance, podemos ter uma alimentação de até 40 kg por cabeça dia, sendo esta composta por até 12 kg de ração e aproximadamente 25 ou 28 kg entre silagem e feno”, diz Newton Teodoro, Gerente de Produtos para Ruminantes de Evialis. Normalmente os tratadores encerram seu turno as 19h mas há um revezamento entre a equipe, de modo que, durante a noite os animais nunca ficam sem cuidados. Em média cada tratador cuida de até 10 animais em um evento como a Expoinel 2012 e o salário varia entre R$2.000,00 e R$10.000,00 por mês.
Dentro da pista de julgamentos, os apresentadores mostram todo o seu talento. A habilidade e a experiência são capazes de destacar as principais qualidades e minimizar eventuais pontos fracos dos animais. É dentro deste terreno que vêm as grandes realizações destes profissionais. Uma boa apresentação, um simples elogio e, se possível, uma boa colocação na categoria disputada já trazem o sentimento do dever cumprido. Mas a conquista de um campeonato, e principalmente de um grande campeonato, em uma grande exposição, quase que invariavelmente, faz as lágrimas brotarem e a emoção explodir – mesmo nos mais experientes.
O sentimento e a relação de carinho com os animais é unânime, mesmo com a dura rotina de trabalho, todos sem exceção, narram com muita satisfação suas estórias do dia a dia com os animais. A grande maioria dos tratadores está na profissão por amor aos animais. É claro que trata-se de um ganha-pão, mas o amor incondicional, na grande maioria das vezes, é o que pesa. Dario, de Goiás, trabalha há 8 anos nesta lida e afirma que há “uma relação de carinho com os animais”.
Os tratadores e apresentadores, muitas vezes por opção – para não se afastar dos animais, dormem nas chamadas “camas tatu”, um espécie de barraca de camping, com pés que a deixam elevada do chão, mais firme e confortável. Segundo “Seu” Anízio Oliveira de Macedo, de Itaberaba na Bahia, e há 12 anos trabalhando como tratador, “antigamente, há uns 15 anos atrás, a dormida era ruim, era mais difícil tratar dos animais nas exposições, não tinha silagem, mas nunca pretendi parar de trabalhar com os animais. Eles falam com a gente”.
Com quase cinquenta anos na lida com o gado e mais conhecido como Bufalo Bill, o tratador uberabense confirma o amor pela profissão: “faço porque gosto, é a minha paixão, os animais parecem aquelas manequins na passarela” fazendo uma alusão ao glamour dos grandes desfiles de moda. Bufalo Bill diz que só para de trabalhar com o gado quando morrer.
Surpresas e a emoções fazem parte da rotina destes profissionais “é um ser vivo, a gente vê um bicho desse tamanho depender da gente… e tudo o que fazemos para o animal, ele retribui…” narra o tratador mineiro de Capitólio, Jeferson Ramos, com 10 anos de experiência, que completa “já trabalhei com a raça Girolando, mas o Nelore é um gado inteligente e curioso”.
A vida destes profissionais não é fácil, geralmente passam muitos dias fora de suas casas e longe de suas famílias. Muitos fazem do pavilhão de cada exposição, sua “casa provisória”. Eles levam para a exposição mantimentos, cadeiras e mesas desmontáveis, churrasqueira, panelas, itens de higiene pessoal, um baú que serve como guarda-roupas e até geladeira, pois muitos preferem se unir com outros colegas e preparar suas próprias refeições, ao lado do pavilhão para não sair de perto dos “seus” animais. Romildo Jesus da Silva, tratador há 15 anos afirma “os animais entendem coisas que a gente não entende” e Luciano Zangari Prandi Junior confirma: “prefiro mexer com boi do que com outra coisa”.
Estes profissionais percorrem o Brasil, de exposição em exposição, e são peças fundamentais para a realização e o sucesso dos Rankings Nacional e Regionais Nelore, que em sua 19° edição – ano calendário 2011/2012 – contou com mais 140 exposições realizadas, em 16 estados e no Distrito Federal, mais de 20.000 animais em pista, de cerca de 300 expositores.
A Associação dos Criadores de Nelore do Brasil reconhece e procura valorizar o trabalho destes profissionais. Durante a Expoinel, a entidade procura fazer um agradecimento simbólico ao trabalho destes profissionais, oferecendo premiações em dinheiro e realizando um grande churrasco de confraternização de todos os tratadores, apresentadores e funcionários do parque de exposições.
Não há dúvidas ao afirmar que, entre todos os atributos que um animal grande campeão precisa ter, é necessário relacionar uma boa equipe de tratadores e apresentadores.
Fonte: nelore.org.br